A ENFERMEIRA DO ALÉM Ela, a querida irmã desencarnada, Fizera-se enfermeira, Aliviava a dor, de estrada à estrada, Era uma espécie de bondade inteira, Socorrendo aos irmãos que a morte Espalhava nas trevas... Há trinta anos servia, Sem escolher lugar, trabalho ou dias. Naquele imenso mar de sombra, o tempo parecia Uma chaga mental sem esperança De melhorar ou desaparecer... Certa feita, contudo, a grande obreira alcança Uma estranha mulher, deitada numa furna; Embora não tivesse a morada carnal, Estava cega e só, deformada e ferida, Patenteando a dor que lhe marcara a vida. Ao ouvi-la gemer, A irmã dos infelizes, Pões-se, em campo, a cumprir O que considerava por dever. Impressionada, ao vê-la de mais perto, A missionária, indaga, a peito aberto: - irmã, ouço-te o choro, há muitas horas, Por que tens tanto fel nas lágrimas que choras? A pobre murmurou, pausadamente: - Ai de mim! O que sou e de onde venho? A memória não dá para lembrar... Sei mostrar simplesmente as misérias que eu t...